quinta-feira, 30 de junho de 2011
De perto ninguém é normal - I
Freud disse que todos temos problemas
mentais, de menor ou de maior grau. Isso comentei com um amigo, ainda hoje pela manhã, quando conversávamos sobre o
comportamento estranho de uma pessoa.
Tenho uma amiga que vive dizendo que vai se
separar do marido, devido a incompatibilidade de gênios. Mas isso faz tempo, faz
mais de 10 anos e até hoje nada... Recentemente brigou com o marido e no calor
da discussão jogou uma tesoura no pobre coitado, a tesoura acabou por atingir a
região entre a articulação da mão e do
antebraço e cortou uma artéria. Teve que ser levado as pressas para o hospital.
Você acha que eles se separaram? Você acha que ela não é normal?
Não, eles não se separaram. Depois desse
incidente parece que o relacionamento entre ambos melhorou um pouquinho. E ela é
normal sim... Pelo menos tem comportamento de gente normal.
Já aconselharam que procurassem
psiquiatras, psicólogos ou psicanalistas para resolver os problemas conjugais,
mas eu – particularmente – penso que
a procura de tais profissionais não será a fórmula mágica para todos os
problemas.
Tenho uma outra amiga que desistiu de
viver. Ou melhor, finge que vive.
Procurou um médico para saber o que tinha e este a encaminhou para um psiquiatra
que a entupiu de antidepressivos. Agora ela toma os antidepressivos e vive
dormindo. Fala para todo mundo em alto e bom tom que o médico disse que ela tem
“DEPRESSÃO”, e assim vive, alimentada pela própria doença. Muitas coisas ela
queria fazer mas ela sempre acrescenta a frase: “Eu faria, se não fosse a
DEPRESSÃO”. Eu não sei se no caso dela o diagnóstico foi benéfico ou maléfico,
pois agora ela vive literalmente a depressão, dizendo que não tem vontade para
nada... Mas eu diria que tem sim, ela tem vontade de ficar em casa, vontade de
dormir, vontade de falar que tem depressão, e vontade de não ter vontade.
Recentemente minha mãe confessou que quando
recém casada tinha medo de sair na rua. Ficava, então, trancada dentro de casa e
não saía para nada, nem para pequenas
compras. Hoje ela tem 75 anos e não sente nada disso. Mas sofreu muito naquela
época, cerca de mais de 50 anos atrás. Os médicos receitavam calmantes e diziam
que ela tinha problemas de “nervos”. Hoje isso é conhecido como síndrome do
pânico.
O 233 é normal? Ou eu é que tenho problemas
em acreditar em espíritos?
A Nihil é certa? Muitos já disseram que ela
é maluca porque cria niques e os usa para conversar com ela
mesma.
Mas penso que era isso que Freud queria
dizer. Todos têm problemas. Todos têm momentos de loucura. Alguns têm muitos
momentos de loucura. Outros têm poucos momentos de loucura. Mas
todos os seres humanos têm a loucura
ou momentos de desequilíbrio presentes em sua vida.
Seria ideal procurar ajuda
profissional?
O número de psicólogos deu um salto de 48%
desde 2000, de 123 mil para 182 mil. Sem contar o crescimento do número de
psicanalistas, psiquiatras e outros profissionais, como os filósofos clínicos. A
quantidade de pessoas que procuram terapia também deve aumentar, já que o
governo tornou obrigatório aos planos de saúde oferecer 12 sessões anuais de psicoterapia a todos os conveniados. Se
antes ir a psicólogos era coisa de “problemáticos”, hoje falar da experiência
parece ser um bom jeito de engatar conversas com amigos no bar.
A palavra vem do grego therapeúein, que
carrega significados como assistir e cuidar. Desabafar no ombro do amigo e
conversar com um médico atencioso pode até ser terapêutico – mas não é um método
que afasta o sofrimento por meio de técnicas apoiadas em fundamentação teórica,
as psicoterapias, todas, de um modo ou de outro, baseadas no tratamento pela
fala. Entre quem frequenta um psicoterapeuta e quem está pensando em procurar
um, é comum haver dúvidas do tipo: vale a pena gastar tempo e dinheiro com isso?
Não é besteira contar detalhes da intimidade a alguém que mal conhecemos e que
não oferece nenhuma garantia de eficácia? Afinal, terapia funciona?
Sim e não. Dezenas de pesquisas
neurológicas provam que sessões de psicoterapia modificam conexões neurais e
padrões de comportamento. Apesar disso, é grande a possibilidade de
você conhecer terapia e achar o método
inútil – e até bizarro.
Tantas correntes diferentes de psicoterapia impõem uma questão: como saber
qual é a mais eficaz ou pelo menos se alguma delas é eficaz?
É
aqui que entra uma outra área da ciência que está se interessando pelo que
acontece no divã. Pesquisas com neuroimagem funcional, método que fotografa o
fluxo sanguíneo no cérebro, estão provando
que a terapia baseada na fala
causa, sim, efeitos permanentes no nosso sistema de aprendizagem, na memória e
no processamento de emoções.
O último estudo da área, feito na
Universidade de Amsterdã no ano passado, analisou 20 pessoas com transtorno do
estresse pós-traumático, distúrbio que geralmente atinge quem passa por traumas
como sequestro, acidentes graves e abuso sexual. Elas foram submetidas a uma
sessão semanal de psicoterapia breve – inspirada em Freud, porém focada e mais curta – durante
4 meses. Enquanto isso, outras 15 pessoas com o mesmo diagnóstico ficaram num
grupo sem tratamento. No final, o cérebro de quem fez terapia mudou. Houve mais atividade em
regiões do córtex pré-frontal, área relacionada a cálculos, pensamentos práticos
e ações que tomamos conscientemente. Na prática, o tratamento deu alívio a
sintomas que têm tudo a ver com traumas, como hipervigilância (estado de alerta
permanente) e recordações aflitivas, que se manifestam em pesadelos e
pensamentos recorrentes.
Alguém pode logo dizer que não é privilégio
da psicoterapia alterar
redes neurais. E não é mesmo. Com maior ou menor intensidade, as experiências da
nossa vida provocam mudanças na atividade cerebral – como na hora em que ouvimos
a seleção de músicas da nossa banda favorita, recebemos a notícia triste da
morte de alguém ou damos uma boa caminhada no parque. “O que é bastante recente
é o reconhecimento da comunidade científica sobre a intensidade e a permanência
das mudanças alcançadas pela psicoterapia. Não se imaginava que o
funcionamento do cérebro pudesse ser
alterado tão dramaticamente pelo tratamento, e com benefícios tão duradouros”,
diz o psicólogo e
neurocientista Marco Montarroyos Callegaro.
É como se o pensamento alterado pela terapia fosse a tabuada que a gente não
esquece mais. “Os sistemas de memória e aprendizagem constituem a base de todas
as psicoterapias. Como o cérebro é uma estrutura plástica, que se
modifica de acordo com nossas experiências, o tratamento consegue atuar em
determinados circuitos”, diz Jesus Landeira-Fernandez, diretor do Laboratório de
Neuropsicologia Clínica e Experimental da PUC-RJ.
Meses antes da pesquisa holandesa, uma
outra, realizada pela USP, mostrou resultados parecidos. O estudo envolveu 16
pacientes também com transtorno do estresse pós-traumático. Eram pessoas que
tinham vivido eventos como a morte de parentes, seqüestro e assalto. Em dois
meses, elas passaram por sessões semanais de uma psicoterapia chamada exposição e
reestruturação cognitiva, que consiste em revisitar o evento para então dar a
ele um significado menos traumático. Outros 11 pacientes com o mesmo distúrbio
ficaram numa lista de espera. Resultado: aqueles que foram às sessões tiveram
mais atividade no córtex pré-frontal e menos na amígdala. Como esta parte do cérebro regula nossa sensação de medo, a
relação é direta: a terapia reduziu o medo e
a ansiedade dos pacientes. Já quem ficou no grupo de controle não teve mudanças
relevantes. “Novos arranjos das sinapses ocorrem durante o aprendizado promovido
pela psicoterapia”, diz o psicólogo Julio Perez, o autor do estudo.
“O tratamento modifica as redes associativas que antes estavam relacionadas à
situação que causava dor e dificuldade.”
Quer mais? Há ainda estudos provando a
eficácia da terapia para problemas
específicos, como as fobias. Na Alemanha, em 2006, 28 voluntárias perderam o
medo de aranha em sessões semanais, de 5 horas, de TCC. Elas tiveram menor
atividade da ínsula e do giro do cíngulo anterior direito, áreas ligadas àquelas
reações que nós não controlamos, como ficar assustado e com o coração batendo
rápido logo depois de ver uma aranha. No Japão, também em 2006, 12 pacientes com
síndrome do pânico se livraram do mal em 10 sessões de terapia comportamental ao longo de 6 meses.
O cérebro deles também deu
uma recauchutada nas áreas ligadas ao medo, à memória e ao pensamento
consciente. “Há indícios de que as psicoterapias promovem o fortalecimento das
funções executivas, ligadas ao córtex pré-frontal”, diz Landeira-Fernandez. Em
outras palavras, a terapia fez as pessoas
pensar melhor.
As pesquisas de neuroimagem indicam que
quem completa o tratamento sai, em geral, 80% melhor do que os pacientes fora do
consultório. É um resultado tão positivo que já está provocando mudanças na
saúde pública de alguns países. Na Inglaterra, o governo anunciou um
investimento de 170 milhões de libras para treinar 3 600 profissionais em terapia cognitivo-comportamental. “O valor
inicial do tratamento com antidepressivos é inferior ao da psicoterapia. No entanto, no médio e no
longo prazo, a melhor relação é a do tratamento psicoterápico, que tende a
apresentar menor reincidência da depressão e efeitos mais duradouros”, diz
Callegaro. O resultado também fez até os mais céticos admitir as vantagens da terapia. “Uma coisa é a teoria ultrapassada
de Freud, outra são os efeitos comprovados da
prática”, diz o neurocientista Sabbatini.
Por
fora da terapia
Mas tem um probleminha. A neuroimagem também levanta questões que incomodam a psicologia. Em grande parte das pesquisas, há um paradoxo aterrador: não importa se o paciente passou por um tratamento inspirado em Freud ou uma prática mais nova. No fim, o efeito de todas é muito parecido. Ou seja: em eficácia, abordagens distintas não fazem diferença nenhuma entre si. Inconformados com isso, pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, tentaram recentemente pôr fim ao mistério. Durante 3 anos, eles estudaram 5 500 pacientes que passaram por 3 tipos de terapia: cognitivo-comportamental, psicodinâmica e centrada na pessoa. Conclusão publicada em 2007: equivalência de novo.
Mas tem um probleminha. A neuroimagem também levanta questões que incomodam a psicologia. Em grande parte das pesquisas, há um paradoxo aterrador: não importa se o paciente passou por um tratamento inspirado em Freud ou uma prática mais nova. No fim, o efeito de todas é muito parecido. Ou seja: em eficácia, abordagens distintas não fazem diferença nenhuma entre si. Inconformados com isso, pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, tentaram recentemente pôr fim ao mistério. Durante 3 anos, eles estudaram 5 500 pacientes que passaram por 3 tipos de terapia: cognitivo-comportamental, psicodinâmica e centrada na pessoa. Conclusão publicada em 2007: equivalência de novo.
O fato de terapias diferentes funcionarem
igualmente cria uma hipótese: talvez a psicoterapia não funcione pelo motivo que
os terapeutas apontam, mas por razões não tão confortáveis à psicologia. Dylan Evans, pesquisador da
Universidade de Cork, na Irlanda, especializado em psicologia evolutiva, defende uma dessas
razões incômodas: “Se as diferentes técnicas não têm qualquer impacto na
recuperação, então é plausível que os benefícios se devam à única coisa que
todas as abordagens têm em comum. A crença do paciente de que está recebendo
ajuda médica de boa-fé”. Ou seja: efeito placebo – o mesmo que faz as pessoas se
sentir melhor depois de tomarem um remédio de farinha ou passarem por um
benzimento.
Evans conta em seu livro Placebo (sem
tradução para o português) que essa possibilidade teria assombrado Freud até a morte. O Pai da Psicanálise acreditava na supremacia do seu
método e, tão logo diferentes linhas se formaram dentro da escola psicanalítica,
passou a atribuir os efeitos provocados por essas dissidências à pura sugestão.
“Logo se tornou claro que seus próprios pacientes não diferiam em recaídas
daqueles tratados por heréticos como Jung e Adler”, afirma Evans.
Assim se desenrola um novelo de pontos
fracos dos tratamentos psicológicos. Apesar de as pesquisas neurológicas
provarem os efeitos da terapia, não há
provas de que isso acontece pelos motivos que os terapeutas apontam. “Na área da
saúde mental, é difícil até saber qual é o distúrbio que a pessoa apresenta”,
diz Sabbatini. Distúrbios mentais não são como dores de cabeça – não há certeza
do que o paciente tem e nem se o tratamento vai ser eficaz como um analgésico. A
falta de fundamentação faz das terapias um serviço estranho: elas oferecem um
tratamento sem saber se ele vai dar certo. Por causa disso, “a psiquiatria é uma
das últimas áreas da medicina que ainda não conseguiu o status de ciência”, diz
Sabbatini.
É o que os especialistas chamam de fase
empírica não científica: quando se descobriu, pela prática, que uma erva ou uma
atitude ajudam a prevenir ou curar uma doença, mas sem ninguém saber exatamente
por quê. Por exemplo: no século 18, o médico italiano Giovanni Lancisi
acreditava que a malária era contraída ao se respirar o ar fétido de pântanos –
daí o nome da doença, que vem de “maus ares”. De fato, deixar de circular em
pântanos evita malária, mas não por causa dos maus ares, e sim porque o lugar é
cheio de mosquitos – estes, sim, a verdadeira origem da doença. As psicoterapias
podem estar nesse nível. Baseiam-se numa crença forte e têm alguma eficiência,
mas ninguém sabe exatamente como a melhora acontece. E mais: pode haver uma
causa e um tratamento mais acertados, porém não descobertos.
Um exemplo é a genética. Por muito tempo,
acreditou-se que a esquizofrenia era um mal psicológico que deveria ser tratado
no divã. Quando vieram à tona suas raízes genéticas e químicas, a psicoterapia para tratar esquizofrenia virou
coisa do passado. Do mesmo modo, cada vez mais pesquisas ligam os genes à
predisposição ao comportamento
depressivo. E uma pesquisa de biólogos evolutivos dos EUA acaba de mostrar que a
hiperatividade tem laços genéticos. Psicólogos costumam explicar esse distúrbio
como uma estratégia de filhos para chamar a atenção dos pais. Já os biólogos
americanos descobriram que há uma razão evolutiva para a hiperatividade existir.
Quando o ser humano vivia em grupos nômades, não conseguir parar quieto era uma
vantagem competitiva para caçadores e pastores. Hoje, porém, a vida sedentária
fez desse traço um problema. Pesquisas como essa mostram que, no futuro, os
cientistas podem descobrir que tratar depressão ou hiperatividade no divã é tão
equivocado quanto achar que os ares do lodaçal causam malária.
Trapalhadas
no divã
Para os psicoterapeutas, porém, a história
é outra. Se linhas diferentes de tratamento funcionam da mesma forma, não
significa que o efeito da terapia seja
placebo ou coisa parecida. E sim que a eficácia não depende do tipo de
tratamento, mas da vontade do paciente em amadurecer, da habilidade do terapeuta
e sobretudo da relação que os dois desenvolvem.
Pouca gente gostaria, por exemplo, de se
tratar com quem se compromete mais com a doutrina em que se formou do que com o
paciente. E passa as sessões tentando encaixar o pobre coitado na teoria.
Críticos da psicanálise chamam essa
prática de “cara eu ganho, coroa você perde”. É o caso do analista convicto de
que o rapaz sofre do clássico complexo de Édipo, quer matar o pai para ficar com
a mãe. Se ele concorda com a interpretação, perfeito. Se não, é porque está
reprimindo impulsos sexuais. “Um dos desafios é não tornar o nosso fazer um
leito de Procusto”, diz Julieta Quayle, um dos presidentes da Associação
Brasileira de Psicoterapia. No mito
grego, os hóspedes de Procusto não saíam vivos de sua casa, pois ele cortava ou
esticava seus pés para que coubessem no tamanho exato da cama que
oferecia.
Também há o problema da má formação. A cada
ano, o Brasil ganha 17 mil novos psicólogos. Muitos saem de faculdades pouco
prestigiadas, não fazem um curso de especialização num método ou num distúrbio e
mesmo assim abrem seus ouvidos para tratar das razões individuais do ser humano
– talvez o objeto de estudo mais complexo que existe. Além disso, terapeutas
também têm seus problemas emocionais, que podem resvalar para o paciente. Nem
todos mantêm uma necessidade básica: sua própria terapia. “Como é possível uma pessoa guiar os
outros num exame das estruturas profundas da existência sem examinar a si
mesmo?”, questiona Yalom. Entre os resultados da falta de análise do terapeuta,
está o de seduzir ou deixar-se seduzir pelo paciente. Não raro terapeutas mal
analisados têm relacionamentos amorosos com clientes.
“Se fôssemos submeter terapeutas a um
controle estatístico, poucos sobreviveriam”, diz o neurocientista Sabbatini.
Mas, como grande parte do sucesso do tratamento depende de quem está se
tratando, é muito difícil avaliar um terapeuta. Para o profissional, fica fácil
culpar o paciente pela ineficácia das sessões. Diante disso, faz sentido a
metáfora que o psicólogo clínico
americano Scott Miller usa para falar do paciente: cliente herói. “Quer o
terapeuta funcione ou não, depende do cliente, e de suas habilidades heróicas,
levantar-se contra as coisas horríveis que lhe aconteceram”, afirma
ele.
A
terapia no futuro
A falta de certeza do tratamento pelo menos
tem uma vantagem: exigir terapeutas cada vez mais focados em resultados, que
usem técnicas mais científicas para descobrir o problema do paciente. “No
futuro, talvez possamos diagnosticar os transtornos através de exames de
neuroimagem”, diz Landeira-Fernandez.
Na hora do tratamento, uma das tendências é
que cada vez mais os profissionais se especializem no distúrbio e não numa
doutrina intelectual. Um exemplo é o trabalho do psicólogo clínico Albert Rizzo, da Universidade do Sul da Califórnia.
Bancado pelo Exército americano, ele adequou a terapia cognitivo-comportamental a um game de
guerra e vem tratando soldados que
sofreram traumas no Iraque. “Jovens acostumados à realidade virtual, eles se
sentem incentivados a voltar aos eventos da guerra pelo computador”, diz Rizzo.
Mas também existe a tendência oposta: que
algumas correntes fiquem ainda mais distantes da ciência e próximas da
filosofia, criando sessões onde a cura seja um fator secundário. “Vivemos
questões existenciais que acompanham o ser humano há séculos”, diz o filósofo
Lúcio Packter, pioneiro da filosofia clínica no Brasil. Não à toa, o psiquiatra Irvin Yalom dedicou o livro A Cura
de Schopenhauer aos filósofos clínicos – que ele chamou de terapeutas do futuro:
“Nós [os psicólogos] fazemos parte de uma tradição que remonta não só aos nossos
ancestrais imediatos da psicoterapia,
começando com Freud e Jung, e todos os
ancestrais deles – Nietzsche, Schopenhauer, Kierkegaard – mas também Jesus,
Buda, Platão, Sócrates, Galeno, Hipócrates e todos os outros grandes líderes
religiosos, filósofos e médicos que se ocuparam de cuidar do desespero humano”.
Uma venerável agremiação.
10 grandes linhas do
autoconhecimento
Desde
que Freud inventou a terapia pela palavra, seu método foi
questionado, derrubado, reerguido e reformado. Hoje, sua influência está
dispersa em centenas de correntes – algumas mais, outras menos freudianas. Veja
abaixo como 10 grandes linhas da psicoterapia funcionam.
Alta influência de Freud
Psicanálise
O
analista acredita que os problemas vêm de impulsos reprimidos na infância do
paciente, que passa a maior parte da sessão falando por meio de associações
livres. O terapeuta geralmente fala pouco, sem emitir juízo, tentando analisar a
fala e os sonhos. Modelo mais antigo, foi ampliado e modernizado com os estudos
de Jacques Lacan (1901-1981).
Psicanálise junguiana
Também chamada de psicoterapia analítica, foi criada por Carl
Jung, discípulo de Freud, que introduziu
na psicanálise o conceito de inconsciente
coletivo – as imagens e as experiências comuns a todos os seres humanos. Por
isso, o método junguiano leva em conta, além das questões individuais do
paciente, as influências externas e coletivas que podem
atormentá-lo.
Psicodinâmica
Chamada de psicanálise light, baseia-se em noções
tradicionais da psicanálise, só que é
mais breve, com o terapeuta tentando ativamente engajar o paciente em um diálogo
que o faça reconhecer e resolver conflitos antigos. É também mais focada para
atingir objetivos concretos preestabelecidos entre paciente e
terapeuta.
Média influência de Freud
Gestalt
Usando o teatro e outras expressões artísticas,
explora técnicas dramáticas para construir pensamentos e atitudes criativas. Com
blocos de espuma, bonecos ou almofadas, o paciente é encorajado a adotar novos
papéis e expressar sentimentos, com o objetivo de compreendê-los
melhor.
Terapia de grupo
Abriga teorias e práticas de outras correntes,
com a diferença de ser praticada em grupo. O convívio com os outros pacientes
funciona como um microcosmo social – um ambiente seguro para um novo comportamento. É indicada para quem sofre de
problemas comuns do seu ambiente e tem dificuldade de se relacionar com os
outros.
Interpessoal
Recomendada a quem passa por depressão leve
ligada a conflitos pessoais, luto ou mudança repentina de papéis (um casamento
ou um novo cargo profissional). O tempo da terapia é predeterminado, e as sessões se concentram no
tempo presente, sem ligar experiências atuais ao passado.
Centrada na pessoa
Foca
na relação entre paciente e o profissional. Sem interpretar pensamentos e
comportamentos, o terapeuta cria um clima de empatia que permite ao paciente
explorar questões que o perturbam e desenvolver a auto-estima. Por isso, é
indicada a quem se sente oprimido pelo mundo e tem baixa aceitação de si
próprio.
Baixa influência de Freud
Terapia comportamental
Linha
bem distante de Freud, é indicada para
quem sofre reações indesejáveis do corpo diante de manias e fobias (como medo de
aranha ou de avião). Utiliza técnicas básicas de aprendizagem, como exposição e
condicionamento, na tentativa de trocar o comportamento usual por reações mais
agradáveis. Para os críticos, esse tipo de terapia tenta fazer um adestramento do
paciente.
Terapia cognitiva
Baseada na idéia de que “os homens se perturbam
não pelas coisas, mas pela visão que têm delas”, como disse o pensador romano
Epíteto (60-117). A terapia cognitiva
tenta reconhece e alterar padrões de pensamento que incomodam o paciente, para
ensiná-lo a vigiar idéias automáticas e corrigi-las. Indicada a quem sofre de
depressão e precisa mudar o que pensa sobre si próprio.
Terapia cognitivo-comportamental
Utiliza técnicas das duas correntes ao lado para
tentar fazer o paciente identificar pensamentos e crenças distorcidas que tem de
si próprio. A idéia é fazer a pessoa perceber seus pensamentos e procurar
corrigi-los, gerando novos padrões de raciocínio. Indicada para quem sofre de
depressão, ansiedade e perturbações relacionadas a traumas.
O
que é a depressão?
Depressão não é tristeza?
A
teoria tradicional diz que a depressão é uma deficiência de serotonina – um
neurotransmissor relacionado a funções como o humor, o sono e o apetite – e,
para combatê-la, tudo o que os antidepressivos fazem é aumentar a quantidade
dessa substância no cérebro. Mas duas questões nessa teoria intrigam os
cientistas há algum tempo. A primeira é que, pouco depois de tomar esses
remédios, o cérebro já está cheio de serotonina e, no entanto, nada acontece. O
segundo é que os efeitos esperados só vão aparecer um mês depois. Um mês é
exatamente o tempo que o cérebro leva para produzir novos neurônios e fazê-los
funcionar. Foi daí que se suspeitou que existe uma relação entre a depressão e a
queda na produção de novas células no cérebro.
Outros indícios reforçaram a hipótese: o
estresse – um dos principais fatores que desencadeiam a depressão – também inibe
a neurogênese, como se o cérebro estivesse mais preocupado em sobreviver ao
fator estressante que em produzir neurônios para o futuro. Mas a primeira
evidência concreta veio em 2000, quando cientistas americanos mostraram que os
principais tratamentos antidepressivos aumentam a neurogênese em ratos adultos.
No ano seguinte, percebeu-se também que bloquear o nascimento de neurônios em
ratos tornava ineficazes os antidepressivos. Agora a esperança é encontrar uma
forma de estimular a neurogênese e, com isso, aliviar a depressão. Ao que
indicam esses estudos, essa doença pode não ser só um estado de tristeza, mas,
sim, o efeito da falta de neurônios novos e da conseqüente perda da habilidade
de se adaptar a mudanças.
(Selma)
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Li duas vezes.
Antes - deixa eu contar uma coisa.
Só pode ser diagnosticado como uma doença,um problema que faz a pessoa sofrer.
E que também não é bom para os outros.
Eu gosto do meu brother Contravocê, e me sinto literariamente realizada,quando consigo imaginar as falas dele.
Fico me achando um verdadeiro Ariano Suassuna no feminino.
Além do mais, sabemos que o Adilson também vive dependurado nos varais de alguma casa, quando não está em uso...(fiuu...)
Uma vez isso dito,vou replicar a prosa.
Mas isso eu farei em outra postagem.
E a desatenção faz parte dele.
Fiquei com raiva do médico que me receitou um antidepressivo que me deixou sem poder trabalhar.
Devolvi o fármaco para o posto.
Encontrei depois uma médica, que recomendou exames- e que disse que vai receitar antidepressivos mais leves.
Vou me cuidando, por ora, com uma dose diária de chocolate, que produz neurogênese, e com vitaminas.
Quando tive que me adaptar a uma mudança de cidade,recentemente, depois de um ano- me sentia irritadiça o tempo inteiro.
Desanimada, sentia meu gosto pelas coisas,em declínio.
Eu já entendo que não era eu a anormal,mas que foi o ajuste a um ambiente que ainda não é dos meus preferidos,que foi bem duro.
Tive anemias, e elas podem ter influenciado nessas sensações ruins.
Aquele médico,ao menos, também me recomendou umas vitaminas fortes, que melhoraram essa minha distimia,em três meses.
Mas sempre fui uma desatenta- tendo contraditoriamente também,um tipo de hiperfoco.
Aquele acidente com uma bicicleta que dra Ana Beatriz,diz ter sofrido na infância,eu também sofri igual, e o pior, é que eu levava a irmãzinha pequena na garoupa- isso quando eu tinha uns quinze anos.
(ninguém se machucou,mas nos estressamos,e a bicicleta teve que ir pro mecânico)
Atualmente, sempre desconfiada dos psicotrópicos que tratam problemas mentais, ando tentando me voltar para alternativas eletrônicas.
Há uma clínica aqui em Sampa, que trata os que sofrem de tdah, com interfaces computacionais.
Ou seja,o paciente chega na clínica,acopla eletrodos na cabeça,e fica umas horas, interagindo com um computador, que lhe envia estímulos ao cérebro.
E isso elimina a necessidade dos remédios.
Porisso,ando interessada nas brainmachines, e sobre elas, eu escrevi uma série,no blog azul do sr.William.
Naturalmente,eu o fiz no espaço de réplicas de uma das minhas mensagens em destaque.
(ficam em destaque por lá,meus textos poéticos,pois são eles que eu mando para o Publicar.)
Mas,quem me acompanhou no gd do terra, deve se lembrar que eu fiz mesmo uma especulação sobre a possibilidade de traumas, e problemas "relacionais" produzirem deficiências cognitivas,que simulam transtornos mentais de nascença,e que tem a grande chance de antecipar as doenças mentais da velhice,e de colaborar com a degenerescência do cérebro.
Eu imaginei que umas vezes,apenas a terapia não medicamentosa, já poderia não apenas solucionar dramas antigos e novos da vida dos pacientes,mas poderia também eliminar com isso,as suas dificuldades em desempenho.
Essa pesquisa, está confirmando minhas suspeitas.
Eu já fui mais interessada em psiquiatria,e admirava a Psicologia,mas atualmente,ando mais simpática à Psicanálise,apesar da sua doutrina ultrapassada.
Acho a Psicanálise mais pura em suas motivações- do que a Psicologia é,e além do mais,me agrada o rigor que é exigido na formação dos profissionais.
Estou sabendo,faz tempo,que se eu desejar me formar nessa área,e trabalhar, vou ter que me tratar por alguns anos antes.
Acho que isso não é exigido sempre,dos psicólogos.
A Psicanálise também é mais amiga da concepção do espírito,não enquanto entidade empírica, mas enquanto um "não lugar" na pessoa humana, onde se localizaria uma certa grandiosidade,ou uma maior tendência para a flexibilidade dos seus clichês- e acredito que se ela se atualizar, ela irá fazer ressurgir a importância dada às maiores questões da existência,que são justamente,do interesse da Filosofia.
Ando escrevendo uma série chamada "Encrenca" cujos textos são até maiores do que os da série Turbilhão,e onde os pressupostos da Psicanálise passeiam livremente,se misturando com arte e poesia.
(continuarei no próximo texto)
Sempre fui ranheta,e quando me aborreço, me fecho "em meu mundo"- mas costumo sim,manter o pique para a vida.
Diz que isso é "depressão leve"- ou para ser fiel à nomenclatura,é "distimia".
Um problema comum, na família do meu pai- e que eu vivo.
Sei que vão me receitar alguma remédio mais suportável,dessa vez,e isso é pré-condição para depois eu tratar o "tdah".
Embora eu saiba que essa visão química e mecanicista da pessoa humana,é salvadora,ao mesmo tempo,ando meio agastada com isso.
Isso nos aprisiona a clichês,e ainda por cima,existe o risco de nos obrigar a termos comportamentos contra nossas objeções de consciência,pois sempre existiu uma certa cobrança de cumprimento de papéis sociais exagerados,às pessoas.
Uma criatura introvertida- e que não aprecia badalações,pode ser induzida a pensar que é anormal.
E a procurar uma terapia da qual ela não precisa.
Por isso,gosto da Psicanálise.
Ela não obriga o paciente a ser o que ele nunca quis ser.
Tanto a Psicanálise,quanto a Filosofia, pressupõe a existência de um ego,e de uma natureza humana,definidos.
Existe uma diferença entre doença e personalidade.
É da maior utilidade cultivarmos a nossa personalidade real,porque ela é nossa riqueza pessoal para nós,e uma oferta para nossos amigos.
E eles -embora não o saibam- precisam de nós exatamente do jeito que somos,ou não haveria necessidade de interações.
Por isso,me agrada muito saber que muitos limites mentais podem ser curados,ou atenuados sem química.
Isso ajuda a cortar alguns estereótipos.
Porque devemos reparar- hoje em dia, todo mundo fala um pouco mal de todo mundo.
Como e onde?
Quando se duvida da competência de seja quem for,em cada minuto que se vive.
Quando se esteorotipa a criatura humana,em excesso.
Porque criança é assim,adolescente é assim,velho é assim,mulher isso,homem aquilo...
Isso tudo colabora para com o respeito aos limites e às diferenças.
Mas,parece que hoje em dia,ninguém espera nada muito bom de quem quer que seja,e isso me deixa com uma sensação de "vazio" - quando penso.
Ou seja, trabalhamos o dia todo, nos esforçamos, e ...nos intervalos,ficamos escutando toda a mídia dizer que somos isso e aquilo,temos esse e aquele limite,e então ficamos nos sentindo não como pessoas reais,mas como personagens de uma novela pastelão.
Como se não houvesse a personalidade- aquela entidade que se mantêm em todas as idades, que transfere nossas preferências,que produz nossos heroísmos, que aquilata valores,etc,etc.
Eu ando pensando numa teoria que eu ando chamando atualmente,de "transumanidade",que é a qualidade de sermos "mais que humanos" em nossos limites de identidade física,e social.
Nenhuma relação direta com a religião.
Isso mais ou menos,já foi explicado ,quando falei na "personalidade".
Algum dia,vou ter um diploma na mão,que irá me autorizar a falar em "megafones" sobre isso.
Muito boa noite, dra Selma.
Estou muito agradecida pelo artigo.
Foi uma grande ajuda para nós,e inclusive,para os interessados em escolher uma psicoterapia com a qual se identifiquem mais.
Eu acho que -no meu caso, alguma mais intermediária entre a tradicional,e as últimas, seria uma boa indicação.
Até breve.
Uma boa noite ao blog.
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Abradeço a sua gentileza por ter me visitado.
Abs.
...hã... como vai sua polivida?