sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Uma estranha sebe


Preciso de um motivo
para viver
Pode ser um amor
para estar, para ser.


O mundo é complicado
A viagem é caótica
A gente ainda vai saber porquê.
Tem horas que eu queria me apagar
não mais nascer,
Mas se penso no amor
Uso lentes cor-de-rosa,


Preciso
de qualquer motivo
Pode ser um pensamento
um humanismo qualquer
sou uma mulher
de sentimentos nítidos.


Talvez uma filosofia de vida
é o que nos faz sofrer
O preço a pagar por existir
é saber que a conta vêm
Não há gratuidades nesse solo
Nada tem o dever
de nos fazer felizes
que triste
o destino pertence ao nosso espírito
insondável e impreciso.


Motivos,motivos,cadê os motivos
o tempo se mescla ao nosso brilho
O sonho acabou
Preciso de listas e livros.




Lá longe,uma borboleta adeja
espalhando o encanto
na cristalina natureza,
emudeci o meu canto,pois
no meio dos crisântemos e dos lírios,
ergueu-se uma estranha touceira,
com uma relativa beleza.
Nasceu um ..."pé de igreja".

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Promessa


Vou relatar um sonho lúcido desses dias,bem depois de encerrar o ano que passei, especulando sobre a vida de uma poeta grega.
Será uma leitura de passatempo.
Dr.Sócrates deixou de ser "escolhido" quando o daemon foi embora.
E Safo deixou de ser escolhida,por cometer um erro.
Não foi nenhum dos erros históricos conhecidos.
Ao contrário do filósofo mencionado, foi ela quem abandonou seus "daemons".
Nesse tempo,as "vozes internas" eram comuns a alguns.
Atualmente,tal fenômeno,é visto como esquizofrenia.
Uma vez que ainda estávamos formando os conceitos de vida que precisávamos ter,tínhamos um amparo "a mais",do Desconhecido.
Em certos locais,os céus se abriam,e Deus falava com o povo.
Em outros,os devas ficavam perto,dando conselhos de graça.
Nem todos,porém, contavam aos outros que "ouviam vozes".
No caso dela,tais vozes sempre apareciam no período de cerimônias religiosas importantes,que ela produzia só para si mesma.
As que ela produzia para os outros(casamentos,etc)não contavam.
Velhinha,  subiu ao "solar" para se ajoelhar na frente da deusa Hera,e depois,na frente da deusa Témis,para agradecer-lhes por tudo o que recebera naquelas décadas.
Cometera alguns enganos,mas conseguira contornar as consequências.
Cáraxos havia muito,voltara para casa.
Os nove livros que divulgara,nos quais contava sobre os prejuízos que Áttis tivera,ao ser retirada da sua escola,haviam feito os pais dela ficarem com dó,e lhe darem permissão de casar.
Agora,sua pupila era uma mulher menos infeliz.(havia ficado fechada num convento,por anos)
Sua filha Kleines,tinha boa saúde,e era uma competente artesã.
Permanecia solteira(por opção).
Seus parentes todos,haviam corrido perigos durante suas vidas,mas estavam bem,e os netos,já eram adolescentes.
O amigo Faón se aposentara de sua perigosa profissão de barqueiro,e se tornara comerciante.
Jamais perdera suas condições de vida,nem precisara se mudar de Metilene,para sobreviver.
Fizera as pazes com Pitaco.
Fôra à casa dele,várias vezes,e soubera que quando deixara de fazer isso um dia,ele reclamara.
Disse que "estava aprendendo a gostar de conversar com a excêntrica".
Apesar dos joelhos doloridos,ainda conseguia ensinar dança.
Têmis lhe assomou,como se falasse ao pensamento,lembrando-lhe que ela tinha uma coisa importante a fazer.
Era a cerimônia do solstício de inverno.
Derramou em sua memória,uma lista de procedimentos.
Mais uma vez,a velha garota,(cinquenta e dois anos nessa época,era "idade demais")ficou efusiva,pois suas lembranças andavam lentas.
Precisava fazer a cerimônia.
Deveria chamar a filha?
Não,a sua menina a achava maluca,com aquelas manias religiosas.
Kleines "não ia muito com a sua cara",por causa da vida instável a qual fôra submetida na infância,devido à convivência com as alunas da escola de dança dentro de casa,e atualmente, amava ao silêncio,mais do que a tudo.
Escrevia bastante em seus papiros,mas sempre os destruía,embora fôsse poeta,como ela,sua mãe.
Não queria,contudo,ser famosa.
Têmis disse que "Kleines já tinha seus méritos irretocáveis."
Estava segura para sempre.
Quem importava,era ela,Safo.
Era bom que o evento,fôsse individual.
Ela havia sido a grande humanizadora do paganismo.
A "bonequinha de piano de brinquedo",estava avisada que suas ações influenciariam gerações a perder de vista,e aos novos deuses e santos.
Não estivera sozinha em tal iniciativa,mas ainda assim,fôra grande a vantagem que fizera.
Em outras nações,o paganismo estava atrasado.
Em suas "visões fantasmáticas" esporádicas,vez por outra,divisava guerras fratricidas,promovidas em nome de deuses mal interpretados.
Ela fôra "escolhida" como um dos muitos atenuadores da religião.
Verdade que sua tarefa era um pouco secundária.
Haviam -e haveriam ícones melhores do que ela no futuro,mas seu nome colaboraria na geração espiritual desses ícones.
Todos os serviçais dos deuses,eram privilegiados,e sem um deles,a construção do "novo mundo" ficaria capenga.
Ela escutava essa prosa da "daemon",enquanto realizava oblações.
Queimava incensos,e pétalas de rosas.
Rezava a todos os deuses.
Lá fora,o mar se agitava,contíguo à cidade.
"_Agora,filha,vc precisará se predispor ao sacrifício.
Precisará cumprir a promessa que fez.
Por causa dela,vc teve tudo o que quis.
Vc foi importante para seus entes queridos,e seu nome jamais sairá dos compêndios históricos.
Todavia,faça sua parte."
"_Dona Têmis,mas para obter o que eu obtive,eu trabalhei demais.
Isso por si só,já não pagou uma parte da dívida?"
"_Os deuses orientam atitudes,ações e empenhos.
Sem a ajuda deles,oblações e sacrifícios,pouco resolvem.
De todo modo, não é de hoje que vc vêm fazendo a mesma promessa."
Sobreveio-lhe a vaga lembrança de uma vida num lugar distante,parecido com a Lídia,onde fôra vestal.
Os deuses ali,pareciam gostar de sangue.
Todavia,ela se tornara vestal,para tentar inutilmente,ensinar às pessoas que os deuses eram bondosos.
A lembrança logo se apagou.
Uma série infinda de outras imagens curtas lhe sobreveio.
Então,entendeu a extensão do que prometera,quando menina.
Ou julgou haver entendido.
Na verdade,ela não sabia nada...
Tudo o que estava lhe sendo pedido,era apenas a boa vontade que um dia, prometera ter.


O céu ia se fechando lá fora.
Uma chuva ameaçava cair.
Raios afundariam mais alguns barcos.
Imagens trágicas lhe assomariam à mente.
Elas se mesclariam a outras imagens.
Um dia,os mares estariam pontuados de cem vezes mais barcos,do que os que os que boiavam agora nas superfícies.
As cidades substituiriam as florestas.
Os alimentos seriam caros,e disputados.
A vida viraria uma causa perdida.
Ela não tinha competência para fazer o que prometera um dia,fazer.
Não queria mais nada disso.
Queria ser como uma criança que brincava,inocente e tolinha,nas areias escuras de Monte Eressos.
Jamais gostara de lá,onde passara a infância,sem nunca ter visto seu pai.
Por isso,quando se mudara para Metilene,e finalmente,conhecera o senhor negro,se entusiasmara com ele,passando a tê-lo na conta de um sábio.
Ele lhe incentivara a promessa que fizera aos deuses.
A de passar a "vida em oblação" a eles, caso fôsse atendida em seus pedidos importantes.
Isso,sob meu ponto de vista atual,significa que ali,e que em algumas vidas subsequentes,ela abriria mão da vida particular,para ter uma carreira religiosa,ou para ter uma profissão eminentemente intelectual- caso se predispusesse a "fazer sua parte no trato".
Bem posteriormente, seria liberada.
Imaginando prever as consequências,e receando enlouquecer,por "desistir do mundo",ela se concentrava na infância passada no pior lugar que havia na terra.
Talvez, muitas vidas atrás,estivera entre as vítimas do vulcão que explodira ali,e por isso,jamais sentira saudades daquele eremitério,embora,ao seu modo,houvesse sido feliz,subindo e descendo colinas e elevações -como toda criança nativa de lá,fazia.
Numa delas, rezara sua primeira prece.
Queria ir para um lugar onde houvessem flores.
E foi atendida nisso,pouco tempo depois.
Em Metilene,nasceram-lhe os irmãos...todos bem mais jovens do que ela.
Desejou naquele momento,estar na casa de uma das suas antigas amigas.
Elas eram felizes,e seus filhos viviam bem.
Os amigos Arquilôco e Alceu,prosperavam em Atenas.
Ela veria de novo, a carta em papiro que recebera de Dhorikkha,a egípcia.
A moça lhe pedia perdão pelo transtorno que causara a um parente seu,e contava que tentara ressarcir-lhe os prejuízos.
Convidava-a para uma visita em sua casa.
Nesse momento,até uma viagem por mar,para uma terra desconhecida,lhe pareceu melhor do que encarar a promessa que fizera no passado.
Meditando,ela fixava-se na despreocupação que queria viver.
De súbito,apagou os incensos,e abriu a janela,para que a chuva molhasse tudo.
Foi embora sem uma despedida para os deuses,os joelhos doendo.
Os dias se passariam,ela não pensaria mais no assunto.
Em sonhos,Têmis,assombrar-lhe-ia.
"_Você enlouqueceu?
Agiu como uma menina que fugiu do casamento,ou da escola!
Vá ao solar.
Vai lá agora.
Quero ouvir de você,sua decisão.
Não funciona,sair correndo".
"_Você já sabe minha resposta.
Eu não quero mais nada disso.
Por favor,me livra desse futuro."
"_Você vai precisar afirmar isso,formalmente".
Dias depois,outra cerimônia entraria em curso.
Ajoelhada,a moça neguinha,pedia aos deuses para "livrarem ela da promessa que fizera".
Não tinha competência para cumpri-la,e pedia perdão por haver um dia,haver ofertado mais do que podia dar.
Não fôra egoísta,apenas cometera um equívoco.
Ela seria eternamente grata pelas benesses que recebera,mas estava simplesmente,adiando para uma data indefinida,sua oferta antiga.
Ela não tinha caráter,nem estrutura,nem firmeza.
Pessoalmente,não conseguira proteger muito nem aos seus melhores amores.(Kleines,Áttis,Faón)
Não ia conseguir ser uma boa "eminência parda" a favor do nome de Deus.
Ademais,precisava admitir.
Gostava muito da vida comum.
Idem achava que sua tarefa de "humanizadora do paganismo" já fôra um presente que dera aos santos.


Uma voz lhe sopraria,
"_vc recebeu com isso,muito mais do que ofertou,sua tola..."


"_eu não sou competente para quase nada,meus queridos..."


 Uma outra tonalidade,muito fria,lhe disse,


"_Vc pensa que a vida é um eterno passatempo.
Mas ela é um embaraço enorme.
Veja o sofrimento das outras pessoas.
Imagine o sofrimento maior dos não gregos,e dos índios nas terras inóspitas dos continentes desconhecidos.
Muitos,não chegam aos vinte anos de idade.
E vc, chegou à velhice,tendo uma vida incomum para uma mulher,e ainda cuidou de tantos.
Mas,não deseja pagar "o restante da dívida moral".
Sua vontade será respeitada.
Mas,estamos tristes.
Pensávamos que a havíamos fortalecido.
Agora,iremos ver nossa pupila, retrocedendo.
Irá perder tudo.
Não será por nossa culpa,por favor,jamais nos acuse."
Numa visão insólita,um monte de fragmentos do futuro,lhe apareceriam.
Ver-se-ia em muitos personagens sofridos,mas todavia,notaria que eles tinham uma coisa em comum,entre si,
_permaneciam eternamente, umas crianças.
Era essa a benção que lhe importava.
A da inocência.
Uma voz chorosa ao seu lado,que parecia a da sua mãe,dona Kleines,reclamava,
"_vc é uma arrivista.
Depois de receber alguns benefícios,não quer dar nada em troca.
Pulsilânime.
Irá pagar por isso,em cada dia da sua vida!"
"_Bençãos não podem ser tiradas,querida Têmis.
E apesar da sua raiva,gosto de você.
Porque foi amiga dos meus parentes,porque protegeu Faón e Áttis,meus grandes amores,porque foi amiga das minhas "amigas" e dos meus amigos.
A sra é uma pessoa boa."
"_Sou boa o bastante para lamentar vc para sempre.
Mas,acho que um dia,voltará a me procurar,como filha razoável que é.
Vc tem razão.
Suas vantagens atuais serão mantidas,mas perderão a importância.
E não obterá tantas outras,quando precisar."
Nos poucos anos restantes,a moça de Metilene,viveu em paz.
Comunicou laconicamente à filha Kleines,que desistira de ser religiosa,mas não entrou em detalhes,para não assustá-la.
Depois disso,ambas se visitaram mais vezes,e começaram uma convivência amigável como nunca haviam tido.
Em seu último ano viva,teve uma depressão- ou como se dizia naquele tempo,uma tristeza infinita.
Sua mente viajou para todos os quadrantes do mundo,sempre navegando pelos mares azuis da Grécia.
Havia registrado novas poesias em papiros,mas Têmis lhe assegurara que sua influência histórica diminuiria um pouco,depois que recusara cumprir a promessa.
Parte dos seus livros,não resistiria ao tempo.
Para ela,Safo,estava tudo bem.
Eles haviam se destinado a salvar o futuro da Áttis.
Não seriam mesmo uma ótima influência,aos jovens do porvir.
Feito louca,um dia,sairia andando a esmo na terra que sempre amara.
Conforme eu "contei" numa poesia para o Filosofia Matemática,já faziam quase vinte anos que sua última aluna de dança,havia se formado,e se casado.
Ela não se aposentara por vontade própria,o destino é que a havia "posto de lado".
Ela não quisera se mudar para outra cidade mais populosa,para continuar trabalhando,e preferira permanecer por ali,perto de alguns aos quais amava,e perto das suas rosas.
A harpa doméstica,ou o plectro, ainda emitia alguns sons harmoniosos,e naquela manhã mesmo,ela cantara sua última canção.
Morreria por causas naturais,em cima de uma das encostas marítimas.
Os videntes,veriam uma jovem dançarina saindo dali voando,e indo se reunir ao panteão dos poetas e heróis gregos.
Seria recebida por Homero ao lado de Teseu,no horizonte infinitamente azul do mar.
Os pescadores recolher-lhe-iam o corpo.
Kleines,contrita,encomendaria o velório da mãe.
E passaria a morar na sua casa.
As pessoas ficariam pensando que era a mesma moça,que se tornara imortal,daí as lendas regionais de Safo ter sido vista por aquelas bandas por uns oitenta anos.
O futuro apagaria as lembranças tristes.
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 Eu,pessoalmente,nunca entendi direito,em que consiste essa "promessa" ou qual seria uma boa versão dela,para os dias atuais.
Acho que o sr.Jesus idem foi alguém que "prometeu" em tempos distantes,e depois,precisou cumprir...)
A presente crônica,eu escrevi em réplica ao texto entitulado "Conceitos Vigentes",do sr.William,em vinte e três de julho último.
Assumiu a forma de um conto.